Há diversas perspectivas relacionadas à criação da inteligência artificial, mas nós só acreditamos em uma. Por quê?
No Ocidente, acredita-se que a primeira vez que idealizaram uma inteligência artificial (IA) capaz de simular habilidades para resolver problemas sociais foi em 1955 com o Logic Theorist, desenvolvido por Herbert Simon e Allen Newell nos EUA.
No continente africano há outra perspectiva histórica sobre este assunto. A tradição do povo iorubá, da África Ocidental, narra os primeiros passos desta “Inteligência” a partir de Ogum, tido como o orixá da tecnologia, do ferro e da inteligência criativa. A tradição Ifa, sistema de crença religiosa central dos iorubás, é toda inspirada no código binário — que serve como base para a ciência da computação convencional, incluindo a IA.
Sempre existe mais de uma perspectiva e é interessante notar como estas duas (dentre tantas que existem) nos trazem até hoje.
A ideia deste texto não é trazer certezas, mas apresentar as possibilidades e, mais ainda, provocar questionamentos. Estamos acelerando um artefato que foi construído aos poucos por diversos povos diferentes. Quantas pessoas podem ser injustiçadas nessa corrida? Será que existe um único significado para a IA ?
Nos últimos anos tivemos um movimento exacerbado de criações e testes de IA considerando uma única perspectiva como se a sociedade fosse única. Temos carros autônomos que podem tomar decisões sem um motorista no volante, mas que falha em reconhecer um corpo negro na sua frente. Nós conseguimos colocar na rua o famoso reconhecimento facial em diversas áreas, mas adivinha só? As tomadas de decisões atingem negativamente um público na sociedade, como o já conhecido caso mapeado pelas pesquisadoras Joy Buolamwini e Timnit Gebru pelo projeto Gender Shades.
É preciso enxergar a falta de ética inferindo nestas tomadas de decisões, principalmente no Brasil que ainda tem um debate inicial sobre o tema.
Até pouco tempo atrás, a IA estava somente no campo teórico e era discutida a partir de uma única perspectiva. Assim, fica mais difícil aprofundarmos o debate de um dos piores problemas da atualidade: a falta de transparência no universo tecnológico. Por trás do conjunto de algoritmos e modelos matemáticos, há pessoas, há certezas pessoais, há decisões individuais e até mesmo os modelos usados foram pensados por pessoas e não máquinas. O debate não pode ser somente em análise de linhas de código.
Eu sou Nina da Hora, Cientista da Computação em construção que tem aprendido a olhar a ciência de pontos de vistas diferentes e de origens diferentes, tento ajudar no resgate da contribuição dos povos africanos para tudo que utilizamos hoje. Sou pesquisadora de novas possibilidades a partir do passado, principalmente nas áreas de IA, Algoritmos, Cibersegurança. Acredito que as melhores perguntas são mais efetivas do que as melhores soluções. Acredito na coletividade intelectual e não em gênios. Nas horas vagas sou mãe de 7 cachorros e eventualmente eles participam das minhas escritas. Acredito que a origem da civilização se deu a partir de povos africanos e também acredito, ainda, em um bom caminho para a IA, mas primeiro precisamos responder juntos: “O que é IA?”.