Cultura

Da depressão à faxina tech: a virada de Veronica Oliveira, ícone da internet

Com criatividade de sobra para anunciar seus serviços, a ex-diarista virou autora de livro e palestrante. Conversamos com ela sobre sua carreira e presença nas redes sociais.

Por bitniks

26 de novembro de 2021

*Texto: Vinícius Marques

O ano é 2015. Veronica Oliveira trabalha em telemarketing em São Paulo; o salário é insuficiente para o aluguel de quartinho de pensão onde vive com os dois filhos; atravessa uma depressão pesada; e perspectiva zero de melhora.

Chegamos a 2021. Veronica, 40 anos, é escritora, palestrante, sorriso fácil e três filhos; mora em imóvel próprio; tem carro próprio; é influencer de sucesso com 300 mil seguidores no Instagram e outros 50 mil no Twitter; e com uma história de superação que inspira as pessoas a persistirem em seus objetivos.

O segredo dessa virada?

  • Não ter medo da exposição e virar faxineira
  • Normalizar a repercussão e comentários
  • Usar a tecnologia e o lado bom das redes sociais para promover seu trabalho

Para quem não conhece a Veronica, ela ficou conhecida na internet por causa de uma série de posts bem humorados em seu perfil no Facebook, com referências a obras icônicas da cultura pop para divulgar seu trabalho de faxineira: filmes, discos de rock e pop.

Rapidamente as postagens viralizaram e o nome “Faxina Boa” se tornou uma marca forte e conhecidíssima na internet. Aliás, a história por trás do nome “Faxina Boa” é excelente.

Veronica disse ao Bitniks que na postagem de estreia para promover seu trabalho, a ideia foi produzir um cartaz inspirado no personagem da série Breaking Bad, Saul Goodman, dono do slogan “better call Saul” (melhor chamar o Saul).

“Estava pensando no que poderia fazer… E Breaking Bad é uma das melhores séries que já existiram na face da terra. Aí pensei: ‘cara, o cartão do Saul Goodman é muito bom’. Foi o primeiro que fiz, o cartãozinho ‘better call Verocas’ e ficou muito engraçado”,  contou Veronica.

“Inclusive, o Faxina Boa não tinha um nome e sobrou um espaço quando fui escrever as coisas no cartão do Saul Goodman. Quem fez o cartão pra mim foi meu ex-namorado. Ele perguntou ‘o que eu coloco aqui?’. Fiquei olhando e falei: ‘coloca Faxina Boa’. Não pensei nem trinta segundos… Nos posts seguintes também fui colocando Faxina Boa. Agora as pessoas me veem na rua buzinam e gritam: ‘e aí, Faxina Boa?’”.

Internada

Antes de bombar com o Faxina Boa, Veronica foi profissional de telemarketing por uns bons anos, até que uma das empresas faliu e ela ficou sem chão. A situação financeira degringolou já que o primeiro emprego que arrumou em seguida não pagava bem. 

Veronica foi com os dois filhos morar em um quarto de pensão na periferia de SP, com um aluguel que abocanhava a maior parte de seu salário. A situação inesperada desencadeou um quadro depressivo, com crises de pânico frequentes.

Depois de uns meses na empresa, ela chegou ao limite e acabou internada em uma clínica psiquiátrica para se recuperar dos pensamentos ruins. Apesar dos problemas, Veronica afirmou que estava completamente disposta a se recuperar e isso fez toda a diferença para pensar nas mudanças que viriam.

Eis que surge o dom da faxina

Ao final da internação, foi dormir na casa de uma amiga e, quase instintivamente, começou a limpar a casa dela. Ao terminar, a amiga pagou Veronica pelo serviço. A partir de então, percebeu que poderia ganhar dinheiro oferecendo seus serviços.

O sucesso da faxineira lhe rendeu milhares de seguidores nas redes sociais, que adoram quando Veronica compartilha suas histórias divertidas de acontecimentos inusitados que acontecem no seu trabalho. Às vezes suas histórias edificantes quebram a internet, como no tuíte em que afirmou, sem revelar nomes, que uma blogueira que se dizia vegana nas redes sociais comia carne. É isso mesmo que você leu! 

Causos e livro

“Uma coisa que demoro para perceber é que não estou tuitando só para mim. Neste post da fofoca da vegana, quando atingiu 2 milhões de interações eu fiquei: ‘meu deus, o que está acontecendo aqui? É isso que o brasileiro está precisando neste momento?’ Chegaram a me perguntar se era a Xuxa. Gente, olha a minha cara, vocês acham que estou limpando a casa da Xuxa? (risos)”

Seu sucesso foi parar num livro “Minha Vida Passada a Limpo”, onde conta sua jornada até se tornar o grande ícone tech de hoje. O subtítulo do livro traz uma frase impactante: “Eu não terminei como faxineira, eu comecei”.

Palestras famosas

Veronica busca ressignificar o que é ser faxineira, trabalho em que as profissionais sofrem com rótulos estigmatizados em razão do histórico de estereótipos construídos ao longo de décadas na nossa sociedade 

Quem assiste hoje uma palestra desenvolta da Veronica nem imagina que ela quase “morreu” de tão nervosa na sua estreia na frente do público, num evento do Twitter. Ela não queria nem mesmo que seu nome estivesse no banner de divulgação do evento, que só tinha gente “chique”.

“No dia do evento, em frente ao local eu fiquei: ‘Não consigo, não consigo, não quero mais ir’. “Entrei, vi o evento, pedi um remédio para dor de cabeça para um cara que estava na plateia, tomei o remédio e fiz a palestra. Foi super legal, eu adorei. Mas achei que iria morrer pelo estresse que tive antes (risos). Hoje tenho uma parede no meu escritório com vários crachás de eventos que já palestrei, e já fiz um TED. Então acho que fui bem pra quem achou que iria morrer (mais risos)”.

Outro livro à vista

A trajetória inspiradora de Veronica deve render mais um livro em breve. Além disso, disse que uma das coisas que mais escuta são questionamentos sobre se ela pensa em disputar algum cargo eletivo para representar a classe das faxineiras. Veronica afirmou que no momento não tem planos para isso, no entanto não descarta completamente porque hoje faz coisas que um dia disse que nunca faria.

Veronica Oliveira no Twitter: @faxinaboa