Ciência

Você é responsável pelas mudanças climáticas?

Consumidores individuais não são quem mais tem culpa no cartório, é claro. Mas podem fazer barulho – e influenciar mais pessoas a abraçarem a causa do planeta.

13 de janeiro de 2022

Separar o lixo, trocar o carro pela bicicleta, cortar o consumo de carne vermelha. Mudar seus hábitos na tentativa de salvar o planeta — ou, pelo menos, diminuir a própria pegada ambiental — virou moda. Você pode até pensar que isso não tem nada a ver com práticas individuais, já que 71% dos gases do efeito estufa são produzidos por somente 100 empresas no mundo todo. Ou ainda apostar naquele argumento de que “uma andorinha, só, não faz verão”, e que de nada adianta o compromisso individual se o coletivo (e os grandes poluidores, principalmente) nada fizerem. Mas o fato é que a humanidade — o que inclui você, leitor — precisa fazer alguma coisa. Rápido.

Em 2021, um relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) chamou a atenção ao alertar a próxima década será decisiva para a aventura humana na Terra. O documento projeta os melhores e piores cenários, caso não cumpramos a meta do Acordo de Paris — e deixemos o aumento da temperatura do mundo superar os 1,5ºC. Cidades inundadas, falta de alimento, prejuízos à biodiversidade e, claro, um calor que inviabiliza a vida humana em várias áreas. Tudo isso pode fazer parte do pacote em um futuro próximo.

Soa desanimador saber que não temos a capacidade de simplesmente resolver essa questão do dia para a noite, é verdade. E que ações individuais são apenas a ponta do iceberg. Ao mesmo tempo, é plenamente possível reconhecer que nós, enquanto parte do problema, não estamos fazendo o básico. No geral, o terráqueo médio ainda joga contra o ambiente — e não faz questão alguma de agir diferente se não tiver uma consequência ruim no futuro imediato.

Como disse uma vez o dramaturgo francês Jean-Baptiste Poquelin, ou Molière: “Somos responsáveis não só pelo que fazemos, mas também pelo que deixamos de fazer.” E estamos deixando. Um relatório do Fundo Mundial para a Natureza (WWF, sigla em inglês), mostrou que o Brasil é o 4º país no mundo que mais produz lixo. Durante o isolamento social, houve um aumento de 15% a 25% na quantidade de resíduos residenciais, segundo dados da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais). Apenas 1,3% de todo o lixo plástico do país é reciclado. 

Foi essa percepção que motivou Cristal Muniz, ativista ambiental, a começar seu projeto chamado “Uma vida sem lixo”. Em 2015, ela decidiu parar de produzir detritos e criou o blog Um Ano Sem Lixo. Depois da experiência, nunca mais parou. “A questão do lixo sempre foi uma coisa que me incomodou, mas eu nunca soube muito bem como lidar”, contou ao Bitniks por e-mail. Ela diz que sempre achou estranho jogar as coisas fora, ainda mais quando elas tinham potencial para serem recicladas. “Especialmente quando fui morar sozinha, eu ficava muito incomodada com como uma pessoa só podia gerar tanto lixo sem fazer nada de mais.”

Aprendendo pelo exemplo

O problema é que, para a maioria, esse despertar não acontece sem um empurrãozinho. Para as empresas, que podem levar ações pró-ambiente para o coletivo, muito menos. A pressão para que o mercado mude, afinal, é maior quando há uma demanda da sociedade. Pode reparar: é muito mais fácil explorar uma ideia que vem sendo amplamente debatida do que tentar, do zero, convencer todo mundo que certa mudança importa.

Sacolas ecológicas, iluminação de LED, escova de bambu e canudos reutilizáveis foram alguns dos produtos mais procurados no Mercado Livre em 2019, por exemplo, quando a discussão dos canudos alcançou seu auge. 

“Não dá para ignorar que a mudança do comportamento individual têm capacidade de influenciar os outros e em especial as empresas”, disse Jacques Demajorovic, professor do Centro Universitário FEI que atua desde 1990 em projetos nas áreas de resíduos sólidos, planejamento e gestão ambiental, ao Bitniks.

O professor explica que esse processo de educação é um processo de experiência e de repetição. “Para que uma pessoa esteja disposta a mudar, é muito importante para ela entender qual o papel ela desempenha na cadeia de reciclagem”, diz Demajorovic. “Por que é importante separar o lixo? Por que ir de ônibus ou bicicleta em vez de carro? A gente precisa entender o nosso papel.”

O preceito básico para a preservação dos recursos naturais a seguir pode ser aplicado em várias ações do dia a dia. No geral, segue valendo a regra dos 3 R’s: reduzir o consumo, reaproveitar e reciclar.

Acha que isso está distante da sua realidade? Cristal diz como ela conseguiu. “Mude uma coisa de cada vez. Não dá pra mudar tudo ao mesmo tempo, ir com calma é importante pra dar tempo de testar, pesquisar, avaliar, testar de novo, se habituar, ficar expert, aprimorar”. O planeta agradece.