Crítica

O Esquadrão Suicida: o filme mais corajoso e divertido da DC

Agora disponível na HBO Max, O Esquadrão Suicida como franquia tem potencial — desde que colocada nas mãos de um maluco como James Gunn.

12 de setembro de 2021

O Esquadrão Suicida retrata uma equipe de super-vilões em uma missão suicida em troca de reduzir sua pena na prisão. Agora disponível na HBO Max, o filme tem elenco de peso e direção de James Gunn — o responsável por Guardiões da Galáxia.

Inicialmente o anúncio do longa foi interpretado como uma tentativa de curar os deslizes do primeiro Esquadrão Suicida, de 2016. Mas ele filme funciona dos dois jeitos: como longa solo (reboot) e como complemento a quem conhece a meia dúzia de vilões que retornam (sequência).

A maior lição que aprendemos com ele é que um mesmo esqueleto de filme pode ser tratado sob duas perspectivas únicas. É um produto do tresloucado James Gunn, muito habilidoso em misturar comédia e ação quando o assunto é heróis/vilões. Já o Esquadrão Suicida anterior foi feito por David Ayer, conhecido por filmes policiais cheios de mercenários e “reis” do mundo criminal. 


Gunn não reinventa a roda, mas garante que todo o charme e estilo dignos marquem presença, salpicando suas maiores qualidades ao longo das duas horas de filme.

Temos uma dezena de “suicidas”, interpretados por bombados (John Cena, Sylvester Stallone, Idris Elba), comediantes (Pete Davidson, Flula Borg), veteranos premiados (Margot Robbie, Viola Davis, Peter Capaldi, Taika Waitit, Alice Braga) e uma estreante (Daniela Melchior). O filme se resume na boa caracterização deles. Em diferentes momentos temos a profundidade certa dada aos personagens certos, sem exageros. Com exceção de uma cena (necessária), não há pausas para explicação mastigada, em flashbacks clichês.

Essa é a magia da boa escrita. Gunn, que também assinou o roteiro, não cria diálogos que expliquem quão perigosos os vilões são; ele apenas mostra os poderes e quão mortais são suas habilidades. Junto dessa mortalidade há outra característica do criador: a violência tarantinesca.

Rick Flag (Joel Kinnaman), Sol Soria (Alice Braga), Ratcatcher 2 (Daniela Melchior), Tubarão-Rei (Sylvester Stallone), Bloodsport (Idris Elba) e o Pacificador (John Cena) em ação. (Divulgação)

Ele acerta em todos os personagens. A Arlequina é romântica, maluca e habilidosa (e não mais sexualizada como no Esquadrão de 2016). Bloodsport é atraído ao acordo de pena reduzida por um drama familiar. Tubarão-Rei é o alívio cômico , como Groot em Guardiões da Galáxia. O Pacificador é odiável, se você não gostar do John Cena. A Ratcatcher 2 foi colocada como o coração do filme, aproximando-se do espectador quando conta sua triste história de vida. Amanda Waller está ainda mais ameaçadora. E temos o melhor personagem de todos: Milton, uma figura memorável e essencial ao Esquadrão.

A surpresa maior vem quando regras são quebradas, começando pelos protagonistas descartáveis. Parece que Gunn foi o primeiro a entender (fora dos quadrinhos e animações) que eles podem e, com certeza, irão morrer. Esse é um ponto crucial compartilhado pela animação DC Esquadrão Suicida: Acerto de Contas.

Não importa se é um ator/atriz de respeito naquele papel — todos são mortais. Todavia, nisso há um desequilíbrio para nós, espectadores, criarmos empatia. Afinal, por que se importar (ou se identificar) com um personagem e vê-lo morrer segundos depois? Felizmente, as mortes fogem do clichê chocante que pode-se imaginar em um filme pipocão de comédia como este.

Arlequina em sua cena digna de Kingsman (Divulgação)

Mais uma melhoria considerável do antecessor é a aplicação das músicas que funcionam (sem trocadilho intencional) no ritmo certo. Nem todas precisam ser “hinos” modernos como no outro Esquadrão, então há uma dose compensada entre conhecidas e menos populares. E vai de Johnny Cash até Gloria Groove, então tem pra todo mundo. Por sua vez, elas dizem como os vilões estão se sentindo, não como o espectador deveria se sentir – lição antiga da sétima arte.

Tìtulos, descrições e marcos de passagem de tempo fazem parte do universo, algo que também está longe de ser coisa nova no cinema, mas merece reconhecimento pela criatividade na execução. Por exemplo, vemos o título dos capítulos soletrados dentro do filme, como em fumaça, algas marinhas e até em sangue. 

Em uma rodada final de analogias aos filme de 2016, temos o vilão mais crível. A grande ameaça localizada (mostrada nos trailers) é a estrela espacial Starro, adaptada dos quadrinhos da Liga da Justiça. A origem de HQs, porém, nega a escala de sua intimidação, pois ela ataca uma pequena ilha sul americana. Enquanto isso, temos a bruxa-zumbi-alienígena do Esquadrão anterior, destruindo uma metrópole americana, pelo visto sem o poder de intimidar nenhum super-herói. Como deveríamos nos desligar de que isso se passa no universo da DC quando, no mesmo filme, há o enterro do Superman e o Deadshot levando uma esbofetada do Batman?

Por estes e outros pontos, O Esquadrão Suicida diverte mais do que qualquer outro filme da DC. São duas horas e dez minutos que você mal sente passar. O filme está nos cinemas de todo o Brasil e daqui cinco semanas estará no serviço de streaming HBO Max.

notas bitniks 4.5