Crítica

Foreclosed é um bom game indie para quem gosta de HQs e cyberpunks

Uma megacorporação, dona dos implantes cerebrais da população, vai à falência. Munido de uma pistola e um moletom, Evan Kapnos utilizará habilidades hackers para sobreviver.

20 de setembro de 2021

A mistura entre HQs e jogos costuma acontecer por meio de adaptações espirituosas – o caminho mais fácil a se traçar. Deadpool de 2013, um dos poucos games que vem à mente que conseguiu fazer isso “do jeito certo”: exagerava na quebra da quarta parede e em seus balões de fala galhofeiros, mas sabia transpor o sentimento de ler um gibi para dentro de um mundo tridimensional. Agora temos Foreclosed, um novo título que sabe misturar bem os universos.

Longe de depender de franquias ou universos compartilhados, Foreclosed é único em sua narrativa conspiratória, com ar distópico futurista e bastante seriedade.


Painéis de quadrinhos contam a jornada de Evan Kapnos, cuja identidade (e implante cerebral) será leiloado, descartando-o da sociedade. “Foreclosed” em tradução livre é “excluído”, explicando o título do jogo. Por trás de tudo, como sempre, está uma perversa megacorporação e você, enquanto jogador, deve fugir de todos que estão à sua procura.

De nenhuma forma Foreclosed se propõe a desafiar o gênero. A história não é digna de prêmios, mas também não decepciona. A forma que tudo se desenrola tem seus trancos, porém, é previsível para quem consome cyberpunk em outras mídias. Com o mínimo de atenção para exploração dos cenários, demorei cerca de 4 horas para finalizar o jogo, então creio que muitos jogadores chegarão a finalizar o Foreclosed em uma tacada só.

(Captura de tela/Bitniks)

No que o jogo peca em termos de história, ele compensa no visual. Com estilo cartunesco, ele remete ao que foi feito nos jogos da desenvolvedora Telltale, entre 2012 e 16. O destaque fica para os tons quentes e texturas chapadas, uma combinação notável quando pensamos em HQs e cyberpunk. O eterno entardecer chega a variar entre agradável e intimidador.

Às vezes, a mudança constante de perspectiva da câmera “semi-fixa” (nos trechos focados na história) me lembrou de jogos do fim dos anos 1990, como Grim Fandango e Resident Evil. Em termos audiovisuais como um todo, a trilha sonora serve seu propósito de ser mais evidente em conflitos, tranquilizando em momentos de exploração, mas nada que fuja do que você imagina quando pensa em cyberpunk. E vale dizer: a atuação do dublador do protagonista não é das melhores, podendo quebrar um pouco o clima imersivo.

O jogo é de ação, na maior parte do tempo com câmera em terceira pessoa – atrás do ombro do personagem. Ele tem certos momentos de quebra-cabeça, em alguns momentos indo para o lado mais stealth — no qual você não pode ser detectado pelos inimigos, caso contrário deve voltar ao ponto de controle mais próximo.

Existe uma mecânica de hackear objetos por proximidade, te encorajando a ter um olhar mais crítico ao ambiente, mas isso é restrito a quem quiser adquirir pontos de experiência. Adicione isso às seções focadas na história e temos os pilares de jogabilidade de Foreclosed.

(Captura de tela/Bitniks)

Tirando um pedaço de inspiração em jogos de tiro casuais, não há pontos de vida. Sua tela fica vermelha quando Evan toma muito dano, mas você não pode quantificar aquilo que te resta. Basta pegar cobertura e esperar a poeira abaixar. O alerta aos inimigos é robótico, pois por maior que seja a área, ao alertar um dos inimigos todos imediatamente saberão onde você está. Na pegada cyberpunk, uma alternativa é se aproximar dos seus alvos e hackear o microchip implantado no cérebro.

Seguindo o gênero cyberpunk, que implora por bodyhacks e modificações extras, você pode fazer upgrades para agilizar o combate. Porém, há quebra de ritmo pela constante cautela com superaquecimento do seu chip cerebral. A adição mais interessante é a telecinese, um poder com duração limitada que possibilita levitar inimigos. Isso é benéfico para o fluxo do jogo, visto que os adversários demoram muito para morrer, sem indicativo de dano causado por você.

(Captura de tela/Bitniks)

Podendo modificar seu próprio corpo e sua arma, diria que o ponto forte de Foreclosed está no planejamento tático. Diversas vezes a vulnerabilidade de vestir somente um moletom e ter uma pistola nas mãos te impacta, porque a quantidade de inimigos em sua direção é exagerada. Depois de falhar, o raciocínio lógico fica em primeiro plano, abrindo portas para tentar novas abordagens, hacks cerebrais e usar seus poderes.

Pela simplicidade de narrativa e a jogabilidade não muito profunda, o jogo com certeza agradará gamers casuais. Aficionados por RPG e jogadores dos recentes Cyberpunk 2077 (em primeira pessoa, de mundo aberto) e The Ascent (jogo de tiro com destaque para modo cooperativo) podem gostar, ou irão se decepcionar por achar o game raso demais – e essa impressão só acontece quando se faz um comparativo direto.

Em suma, ele é ótimo para se distrair durante um final de semana, contudo, criar expectativas sobre algo além do visual pode ser um tiro no pé.


notas bitniks 3.5

Foreclosed está disponível para Nintendo Switch (R$ 101,95), PS4/PS5 (R$99,50), Xbox One e Xbox Series X/S (R$74,95).