Crítica

Aposta da Prime Video, novo Cinderella mira na novidade mas faz mais do mesmo

Com mudanças pontuais e bastante discurso de empoderamento e discussão sobre gênero, Cinderella ainda inova pouco, mas agrada.

20 de setembro de 2021

Se você é um amante de filmes de princesas, já deve saber que o novo live-action de Cinderella estreou no Amazon Prime no dia 3 de setembro. Mas, se espera encontrar um ‘amor desses de cinema’, esse não é o filme. 

Na adaptação feita do clássico do escritor francês Charles Perrault, “La gatta cenerentola”, ou Gata Borralheira na tradução livre, a obra dirigida por Kay Cannon, conhecida por escrever e produzir a série de filmes Pitch Perfect (2012), flerta com o feminismo, o empreendedorismo e a contemporaneidade.  

Confesso que estava ansiosa para o lançamento, principalmente para acompanhar a primeira vez da cantora pop Camila Cabello, que interpretou Cinderella, no novo longa. O Príncipe Robert foi Nicholas Galitzine, que teve papel importante na série de terror da Netflix, Chambers.

A experiente Idina Menzel, cantora, atriz e compositora, dubladora da Elsa em Frozen, e parte do elenco de Glee foi escalada para o papel de Vivian, a madrasta – que de acordo com Cannon, não é nem um pouco ‘má’. O time dos veteranos também conta com a Rainha Beatriz estrelada por Minnie Driver, fada doméstica no filme Ella Enchanted (2004) e o majestoso Pierce Brosnan, destaque pela atuação como James Bond (1995 – 2002) como Rei Rowen. E claro, Billy Porter, ator e cantor americano que roubou a cena e bancou o papel da Fab G

Tudo no filme acontece em cenários musicais muito bem preparados, mas que não conseguem envolver ou transportar o público como pretendido. O que vale muito a pena é a performance de “Dream Girl” em que todas as mulheres, lideradas por Vivian, se juntam para cantar sobre o sufocante sexismo social que suportaram. 

Algumas adaptações de hits foram interpretadas com maestria, como o cover de “Perfect” do Ed. Sheeran ou “Am I Wrong” de Nico & Viniz. O mashup de “Seven Nation Army” do White Stripes e “What A Man” do Shoop é um dos melhores arranjos do filme. Apesar disso, boa parte das cenas musicais são exaustivas e nem sempre fascinantes. 

Sonho de princesa?

A narrativa começa com o famoso ‘Era uma vez’, e o resto você já sabe. Uma menina chamada Ella perdeu a mãe quando era muito jovem. Seu pai casou-se novamente e também faleceu. Criada por sua madrasta Vivian e acompanhada de suas meias-irmãs, a jovem era tratada como uma serva, fazendo café da manhã e realizando as tarefas de casa. Por viver confinada em um porão e estar sempre suja de cinzas (cinder, em inglês), que às vezes manchavam sua pele, Ella foi apelidada de Cinderella.

Sonhadora e gentil, Ella sonha em deixar o porão e entrar no mundo da moda como costureira. Contudo, os tempos não são propícios para uma mulher que se preocupa com a carreira, e os habitantes da cidade tampouco acreditavam nesse desejo.

Os vários elementos que você conhece estão lá: o príncipe que vai se apaixonar, o baile em que Cinderella vai ter sua chance, a madrinha malvada etc. Há mudanças pontuais, como o fato de o príncipe conhecer Ella antes do bailer e a madrinha ter sua maldade justificada — além de muito espaço para discursos sobre gênero e empoderamento.

Na adaptação de Cannon, a ‘fada madrinha’ é uma lagarta que Cinderella cuidou e que se transformará em borboleta ao longo do filme. A estrela da vez é Billy Porter – ator assumidamente gay que entra e rouba a cena para transformar a noite de Ella. A inovação aqui é um personagem negro (mesmo não sendo a primeira vez – vide Whitney Houston em Cinderella de 1997) e pessoa não-binária, usando um vestido chamativo e sapatos de salto alto num conto infantil.

Cinderella
Foto: Kerry Brown / Amazon Studios

Sem abóbora ou cavalos brancos, Cinderella vai ao baile na companhia de seus três ratinhos que fizeram parte de sua vida enquanto estava confinada no porão e sem se preocupar em encontrar com o príncipe, ela só quer conhecer alguém que esteja interessada em comprar seus vestidos.

O filme conta uma história familiar com algumas mudanças que públicos específicos, provavelmente os espectadores mais jovens, devem ser capazes de desfrutar. Acontece que, no final, nada disso é único ou mesmo envolvente da maneira que tinha potencial para ser. Em vez disso, Cinderella foca no humor – que raramente funciona – e no plot twist de largar o sonho de viver um “happy ever after” para ser uma mulher empreendedora. 

Há muito um esforço de modernização, que é sempre uma forma potencialmente interessante de abordar um conto popular, mas na verdade, Cinderella, como outros contos, não faz nada mais do que se adaptar ao seu tempo.

É difícil descrever algo com tantos toques negativos e positivos, mas é um bom passatempo ​​como de fim de semana para ver com a criançada (a menos que você seja muito conservador).

notas bitniks 3