Investimento de risco no Yahoo não condiz com a paciências necessária para negócios de mídia.
Comecemos com a notícia de que a Verizon, gigante da telefonia americana, resolveu desovar seu braço de mídia, que incluem Yahoo e AOL (mas também sites como TechCrunch e Engadget) para um fundo de investimentos chamado Apollo. Esse foi só o se último movimento no sentido de se desfazer dos veículos que foi comprando no decorrer dos anos: em novembro de 2020 já havia vendido o HuffPost, que veio junto com a AOL, para o BuzzFeed em uma troca de ações; e, em agosto de 2019, também tinha passado para frente o Tumblr, que era parte do Yahoo.
A primeira coisa que chama a atenção na operação é o tamanho do prejuízo que a Verizon engoliu: a AOL custou US$ 4,4 bi, enquanto Yahoo foi comprado por pouco mais que isso, US$ 4,5 bi. O Apollo pagou US$ 5 bi por ambas.
É bom contextualizar: houve um momento na história em que a AOL era “a internet”. Quase todos os americanos acessavam a rede por meio da AOL, e praticamente não saíam dela. Quando a AOL se fundiu com a Time Warner – naquela que é considerada por muitos como a pior operação de fusão da história do capitalismo americano – ela era avaliada em US$ 200.
Um pouco mais para frente, o Yahoo também se tornou gigante. Ele era como a AOL e o Google juntos. A empresa chegou a ser avaliada em US$ 125 bi. Em 2008, a Microsoft fez uma oferta de US$ 44 bi, que foi rejeitada. Nove anos depois e o Yahoo é vendido por quase um décimo disso.
Isso é o que eles foram, mas o que são hoje AOL e Yahoo? E por que alguém ainda acha que faz sentido investir diversos bilhões de dólares neles? Pra responder essa pergunta é necessário primeiro entender quem é o comprador.
O Apollo é um fundo de private equity com ativos avaliados em US$ 455 bi. É um fundo famoso no mercado por ser um comprador voraz. Diferentemente das estrelas deste mercado, que costumam fazer grandes cheques para poucos negócios, o Apollo gosta de distribuir os recursos, compra muito mais empresas e coloca menos dinheiro em cada uma.
A lenda diz que o fundo já comprou empresas que não tinham nem um plano de negócios formatado. O modelo certamente tem uma taxa de sucesso menor no que se refere ao número de investimentos que dão certo, mas a diversificação do risco tem levado a resultados melhores do que os concorrentes. Se você investe em 100 caras, é mais provável achar um vencedor do que se investe em 10, e se coloca menos dinheiro em cada um, perderá menos com os que não derem certo.
Podemos gastar linha aqui especulando sobre o que um fundo de investimentos quer com uma empresa de mídia em 2021, mas o fato é que isso pouco importa. Ainda que AOL e Yahoo continuem sendo bons geradores de caixa, o que interessa a um fundo como o Apollo é “comprar barato”. Porque se você comprar barato, sofre menos com uma possível perda. E parte da mágica de ganhar bilhões de dólares no atual modelo do mercado de capitais americano está em ter o sangue frio pra despejar bilhões esperando que os dólares que não se se perderem serão multiplicados para compensar com.
Quando a Verizon comprou tanto AOL como Yahoo o racional era parecido: “as empresas não ganham mais dinheiro como ganhavam, mas ainda geram receita e há espaço para aumentar isso e reinventar as marcas”. Não havia e a Verizon não teve paciência para esperar alguma coisa acontecer. É pouco provável que o Apollo tenha tal paciência, assim como é bem pouco provável que marcas que tiveram valor combinado de US$ 350 bi e hoje valem US$ 5 bi ainda tenham qualquer lenha para queimar. É como jogar na loteria — o que é um pouco mais fácil quando seus ativos chegam a US$ 455 bi e você chegou a isso com algumas jogadas que pareciam ruins e se tornaram boas.
Aqui semanalmente eu vou colar algumas coisas legais que eu li e que acho que vale a pena, e pode não ter nada a ver com mídia – é, aliás, bem provável que não tenha. A chance de eu ter recebido a dica no Twitter ou em alguma newsletter é de 100%. Se eu lembrar quem indicou eu vou contar.
Aliás, se eu não lembrar tem 50% de chance da dica ser da Margem, newsletter do jornalista Thiago Ney.