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Em “Amazon Sem Limites” autor relativiza exploração e vira fã de estratégias de Jeff Bezos

Exatos 27 após começar a vender livros online diretamente de sua casa (alugada), Jeff Bezos deixou de ser CEO da Amazon e se tornou presidente-executivo em julho deste ano. Semanas depois, foi um dos primeiros tripulantes da Blue Origin a decolar em direção ao espaço, ficando 100km acima da superfície do nosso planeta. Da garagem ao foguete, o ambicioso Bezos criou uma companhia descomunal. É esta cronologia que vemos/lemos em Amazon Sem Limites, livro de Brad Stone que chegou recentemente ao Brasil pela editora Intrínseca. Aqui não vemos a criação da Amazon, mas o crescimento da empresa que passou a casa do 1,5 trilhão de dólares.

Como todo protagonista precisa de uma “história de origem”, Amazon Sem Limites serve como sequência direta a outro livro do autor: A Loja de Tudo, publicado em 2014 aqui no Brasil (também pela Intrínseca). A primeira obra esmiuça a vida de um homem com sua “lojinha” que cresceu em uma dimensão absurda, mostrando a todos que aquele modelo de negócios era capaz de funcionar.

A real biografia de Bezos está lá, mas em Sem Limites temos chance de entender certas motivações do ex-CEO, como apostar na companhia de vôos e o nascimento da Alexa, junto dos dispositivos Echo – não mais sobre o que ele pensa sobre o sucesso do Kindle.

Quem não leu A Loja de Tudo não ficará de fora sobre quem era Jeff Bezos entre os anos 1990 e 2000, pois a introdução do novo livro (de 17 páginas) resume o essencial. Há os primeiros planos da Amazon, a chegada dos alto-falantes inteligentes, os estúdios de Hollywood e um espacinho para alfinetar críticos ao livro anterior.

Ao longo dos 15 capítulos temos a divisão em três partes: Invenção (com as lojas “inteligentes” Amazon Go e o serviço de streaming Prime Video), Alavancagem (Amazon Fresh, Prime Now e o sistema de entregas) e Invencibilidade (política, redes sociais e mídia).

Stone conta neste livro a barbárie em uma de suas aventuras escrevendo A Loja de Tudo, quando foi atrás do pai biológico de Bezos, que não sabia se o filho estava vivo – e demorou 45 anos para descobrir o paradeiro de sua cria abandonada. Ted Jorgensen foi dono de uma loja de bicicletas até sua morte, em 2015. Não conhecia a Amazon, por não usar computador, e o nome “Jeff Bezos” soava vagamente familiar. O autor comenta que Bezos e a esposa não ficaram felizes com a abordagem invasiva.

(Divulgação)

Um dos temas frequentes é a confiança em robôs e em inteligência artificial sobre o trabalho humano. Cloud computing se tornou um setor onde a Amazon chegou rapidamente ao topo, por ser outra prova de que o ex-CEO sabia onde investir. O famoso jornal The Washington Post foi outra aquisição dele, que também é dono da Twitch, Whole Foods (rede de mercados), Audible (de audiobooks) e a Ring (fabricante de campainhas inteligentes).

Não diria que o autor “passa pano”, porém, certas questões éticas ficam ofuscadas pela reverência a Bezos. Brad Stone resume o personagem de seu livro a um “explorador dos armazéns”, dizendo que esta é uma visão do público, logo depois de dignificar Jeff como o “herói de ação do mundo empresarial”, por causa da foto dele que viralizou na internet, com seu bíceps evidente. O autor é fã e não esconde.

Uma verdade absoluta é: as falhas e parciais explorações (dos trabalhadores de armazéns) são contadas com a ressalva de que uma empresa trilionária tem dinheiro de sobra para lidar com problemas. Eles podem apostar e falhar na China, assim como podem cobrir casos de pessoas que morreram por conta de entregas da Amazon. No livro, vemos explicações sobre casos que chegam aos grandes veículos norte-americanos, mas a leve romantização passa longe de um tom jornalístico – coisa necessária, nestes casos.

A proximidade ao monopólio inclusive chega a ser mencionada, colocando a Amazon no pedestal das grandes corporações e no setor e-commerce. Um incômodo é o autor passar parágrafos falando jargões do mundo dos negócios, ora desviando um pouco do foco, o que pode não ser muito fluido para quem “só” quer saber a história de Jeff. De qualquer forma, as 510 páginas valem a pena entender o que se passa na cabeça (careca) do homem mais rico do mundo, quer você goste dele ou não.